A Ilusão da Escuta: Entre Gerações, Terapia e o Medo de Si Mesmo




Evitar falar sobre gerações pode parecer estranho, mas ao tentar categorizá-las, corremos o risco de perder de vista o que realmente importa: a contínua evolução da mente humana, que não pode ser dividida em compartimentos estanques. Não há futuro sem passado, e nenhum amanhã é verdadeiramente independente do sucesso ou fracasso de ontem. Ao falar sobre gerações, acabamos construindo uma linha do tempo que, em vez de nos libertar, muitas vezes nos aprisiona nas limitações do passado, ou suposto presente "independente", esquecendo que somos todos frutos de um contínuo processo de evolução e transformação.

Contudo, a transformação se tornou algo raro. O eco da mesmice das almas é um fardo psíquico carregado por muitos, independentemente da idade ou gênero.

Carl Rogers foi verdadeiramente perspicaz ao perceber que, para a ausência humana, há mais do que o estudo da psicanálise: há a escuta atenta e o questionamento estruturado. Desde os confinamentos de nossa existência, há uma necessidade profunda de ser ouvido por alguém que seja intelectualmente e até espiritualmente desenvolvido. O vazio do ego humano silencia as justificativas que carregamos — justificativas que pesam e precisam ser descobertas e tratadas, pois, por mais que tentemos escondê-las, elas não desaparecem. Confinadas, tornam-se vingativas, sabotando-nos na forma de rancor, mágoa, solidão, compulsões e manias.

O que Freud percebeu, e o que muitos ainda se recusam a aceitar, é que a maioria das pessoas não busca a verdadeira liberdade, uma liberdade que exige, por sua natureza, o autoconhecimento. Trata-se de sair da própria caverna, a mesma caverna que Platão tão sabiamente nos alertou sobre, a caverna das nossas emoções, dos nossos desejos, do nosso passado. Sair da nossa prisão psíquica é o caminho para conquistarmos a liberdade. Contudo, as pessoas não buscam o autoconhecimento, nem o questionamento profundo que a filosofia nos legou ao longo dos séculos. Em vez disso, anseiam pela escuta — doce, sutil e acolhedora. O direcionamento, por outro lado, é o trabalho árduo, o dever de casa que ninguém quer fazer. A psicanálise, em grande parte, tornou-se uma espécie de papinha dada ao bebê: às vezes é engolida, às vezes rejeitada. Às vezes ela amadurece a mente, outras vezes, cria dependência. 

Hoje, muitos procuram a terapia não como um caminho para se desvendarem, mas pelo conforto viciante de receber respostas prontas, sem qualquer curiosidade real sobre suas próprias questões. Mais do que isso, a terapia virou um espaço de escuta atenta e preocupada — um luxo em um mundo onde os contatos se multiplicam, mas a verdadeira atenção se dissolve. Tantos relacionamentos, e tão pouca conexão genuína. Mas o mais assustador talvez não seja a falta de quem ouça, e sim o medo de escutar a si mesmo.  


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