Conto 1: Vida
Em estado de alerta, com a bagagem de mão comprimida contra o colo, Amanda ocupava um assento naquele voo rumo a Buenos Aires. Impaciente, deslizava os olhos pelo celular sem realmente ver, como quem folheia uma revista apenas para afastar o desconforto. Sentia-se inquieta durante as esperas, como se estivesse perdendo algo — não sabia o quê, mas temia. Dedos inquietos, respiração contida. Os olhos, urgentes, fixavam-se no nada.
O trabalho de Amanda era seu meio de vida, algo que fazia de maneira automática para poder viver. Sua rotina no hospital era impessoal e, por isso, distante e perfeita. As canetas bem arrumadas no estojo, as fichas de pacientes organizadas simetricamente sobre a mesa, nenhum pertence pessoal na sala clara e branca. Nada que pudesse revelar o mínimo traço de sua personalidade, essência ou vida. Uma garrafa de água rosa e seu telefone celular eram tudo o que levava consigo de um lugar para outro. Como uma operária ordeira, diminuía-se ao ofício de suas obrigações. E, pouco a pouco, suas obrigações a diminuíam como engrenagem. Diminuía-se a conversa com os pacientes, os “bom dias” aos colaboradores e, quanto mais tudo se diminuía, mais insuportável se tornava. Amanda entregava suas oito, às vezes doze, horas de plantão à automatização de suas ações. Como alguém ansioso por assinalar um "check" em sua lista de afazeres, sua vida resumia-se a uma listinha.
Ao encerrar o plantão, na corrida para finalizar a visita aos pacientes internados, segurava a prancheta com força e passava pelos corredores como se ninguém existisse ali, como se aqueles que a ajudavam e a viam todos os dias fossem invisíveis. Ao chegar aos quartos, lias as fichas, não os rostos; apressada respondia "Sim, sim", impaciente, às perguntas que lhe eram feitas. Se um paciente morria ou recebia alta, e se não fosse a própria responsável por informar o luto ou conceder a alta, não tinha o mínimo interesse em saber o que havia acontecido. Conhecia fichas, mas desconhecia seus pacientes.
No fundo, sua própria vida era invisível para si mesma, e dela não sabia nada além do óbvio. A reflexão nunca fora seu forte. Tudo o que sabia era que nascera, se formara, trabalhava, aproveitava os finais de semana e aguardava ansiosamente as férias, pois, um dia, morreria — e, ao menos, precisava encontrar diversão além dos 80% de tarefas que cumpria mecanicamente.
Mas a morte era um material classificado em seu íntimo, a ponto de nem ela mesma ter acesso a esses arquivos. Às vezes, quando questionada sobre o sentido de algo, dizia despretensiosamente: "As pessoas esquecem que vão morrer", sem risco de reflexão, esquecida. Falava dessas coisas como alguém que repete uma frase em uma língua estrangeira sem realmente entendê-la.
Sentada na área de emergência da classe econômica, via vagamente os passageiros entrarem, dividindo sua atenção entre a tela do celular e o movimento no corredor do avião. Na tela grande e acesa, lia as últimas notícias sobre o desenvolvimento da ciência, se perguntava quem estaria interessado em assuntos científicos que só teriam impacto real dali a duas ou três décadas. Sua urgência era o hoje: a viagem, o sabor do Malbec, as fotos, o distanciamento da rotina e a busca pelo prazer efêmero e voraz. Que acabaria junto com essa viagem e despertaria como um leão faminto, mal-humorado e ingrato no momento em que retornasse ao cotidiano. Mas refletir sobre isso era-lhe inconcebível, e imaginar uma vida diferente além dessa lhe parecia estranho e inferior.
O avião decolava e a jogava contra o banco, afastando sua atenção da tela pela primeira vez no dia. Foi então que reparou no senhor sentado do outro lado do corredor. Um idoso, acomodado confortavelmente, com um aparelho móvel de respiração.
Amanda se remexeu, desconfortável. O que havia de errado nele? O que a fazia se contorcer como uma cobra ao olhar sua mão abatida segurando o respirador, enquanto seu rosto, marcado pelo tempo, exibia um semblante alegre e pleno, como o de alguém que havia recebido boas notícias? Ele fitava o horizonte sem discriminação. Mesmo com os plásticos adentrando suas narinas e invadindo seu corpo, parecia sonhar com a vida e respirar um oxigênio que ela nunca respirara antes.
Um ar consciente.
Tentava não encará-lo, mas seus olhos pareciam fugir de sua própria vontade. Percebia-o como quem nota algo pela primeira vez. O idoso segurava o aparelho de respiração pela alça com uma das mãos e repousava a outra no colo. Com um semblante sutil e alegre — mas por que tão sutil? —, olhava para frente, presente naquela espera.
Sem jornais ou celular, apenas estava ali. Sem artifícios de distração.
Ativo. Presente. Vivo.
Vivo?
E como, simplesmente por existir, lhe causava piedade? Uma piedade espelhada — do outro e de si.
Amanda o olhava como quem encara, involuntária e vergonhosamente, um rosto com uma cicatriz. Sua plenitude, sua presença, a inquietavam — quase a ofendiam. Ao fitá-lo e seu respirador, sentiu culpa.
Como em um estalo de dedos, o avião pousava. Como se despertasse de um sonho, ouviu a comissária chamá-la:
— Senhora... senhora, gostaria de ajuda com a bagagem?
Levantou-se meio sem rumo. Desceu do avião anestesiada e sentou-se em um café sem fazer um pedido. Esqueceu-se para onde ia e, por um momento, respirou fundo. Respirou com culpa. E, pela primeira vez, percebeu a vida, tomada pelo pavor de seu fim.
Comments
Post a Comment