A Coragem de Sentir
A vulnerabilidade é rara. Tão rara que muitos a confundem com fraqueza. A maioria das pessoas foge dela — e nem percebe. Mas há uma forma simples de descobrir se você também tem medo: sente-se num parque, a qualquer hora do dia. Respire fundo. Olhe ao redor. Algo te toca?
As folhas caindo, os passos apressados de um desconhecido, o riso de uma criança, o céu repetindo seu azul de sempre. Alguma dessas coisas atravessa você? Ou tudo escorre pelos olhos como se o mundo estivesse atrás de uma vitrine?
A vulnerabilidade começa quando algo externo te transforma por dentro. Quando o choro de alguém na rua te afeta sem explicação. Quando a dança das nuvens numa manhã qualquer te arranca uma emoção sem nome. Quando o invisível faz morada em ti.
Mas não basta sentir. Louis Lavelle nos ensina: a verdadeira liberdade é a criação de si. E criar a si mesmo é um ato radical de transformação. Não é passividade diante do belo ou do trágico — é tornar cada experiência matéria-prima para a alma. É não deixar passar aquilo que toca. É transformar dor em linguagem. Amor em gesto. Silêncio em presença.
A vulnerabilidade não é exposição cega, mas a coragem de ser tocado e, a partir disso, criar-se de novo. Não é sobre fragilidade. É sobre potência — a potência de se tornar mais vivo a cada instante.
A vida não espera por quem observa. Ela só se revela a quem participa.
E talvez, no fim, seja esse o verdadeiro sentido da liberdade: sentir o mundo e, ao senti-lo, transformar-se com ele.
Comments
Post a Comment