Antes Que Ele Soubesse
Eu sempre soube que Pedro era um menino sensível, com um coração que parecia grande demais para o peito de oito anos. Corria pelo quintal com os carrinhos, adorava sua própria solitude e inventava histórias com seus bonecos. Às vezes, parava, solitário, para observar as formigas marchando em fila, como se quisesse entender o segredo, desvendar um mistério. Mas houve uma primavera em que algo mudou. E eu, como mãe, percebi antes mesmo de ele entender o que estava sentindo.
Era a chegada de Clara, a nova vizinha. Uma menininha de cabelos cacheados e olhos brilhantes, que se mudou para a casa ao lado com os pais. Pedro, que nunca ligava muito para os outros meninos da rua, passou a ficar mais tempo na varanda, espiando por entre as grades do portão, ignorando a solidão e desejando o encontro. Ele não dizia nada, mas não sabia disfarçar — se perdia no tempo observando, espiando, avoado — e eu via. Via o jeito que ele ajeitava o cabelo bagunçado, como se, de repente, isso importasse, e como seus olhos se iluminavam quando Clara saía para brincar com o cachorro no jardim.
Um dia, enquanto eu preparava o almoço, Pedro entrou na cozinha segurando um desenho. Era um papel cheio de cores, com uma menina de cabelos cacheados segurando uma flor.
— Mãe, acha que ela vai gostar? — perguntou com a voz tímida, mas os olhos cheios de esperança.
Meu coração deu um salto. Meu menino, tão pequeno, já sentindo o primeiro arrepio do amor.
— Claro que vai, filho. Está lindo — respondi, segurando o impulso de abraçá-lo forte.
Ele sorriu, meio sem jeito, e correu para o quarto.
Depois disso, comecei a notar os detalhes. Ah, mas que curiosidade é essa que mãe tem? E eu não sou de ferro, sou de carne. Sou mãe. Desajeitado, ele pedia para ajudar a regar as plantas do quintal — mas o menino esperto só fazia isso quando Clara estava por perto. Inventava motivos para passar pelo portão dela, como "esquecer" a bola do outro lado da rua. E, numa tarde, quando a vi convidá-lo para brincar de pega-pega, vi meu Pedro correr como se o mundo fosse só aquele momento, com um sorriso que eu nunca tinha visto antes.
Ai, que aperto no coração. Lá se ia meu menino conhecer a vida, o mais perigoso dos sentimentos: a paixão. Respirei fundo e tive coragem de ver que meu menino crescia. E crescia.
Oh, meu Deus, se eu pudesse impedir... Esse amor de mãe que aperta sem medida. Mas era necessário ter coragem. Coragem, mulher! Deixe parte de si se descobrir — parte essa que a ti não pertence, nunca pertenceu. Então o vi desabrochar.
Mas nem sempre era fácil. Teve um dia que ele voltou para casa cabisbaixo, chutando pedrinhas.
— Clara disse que o João é mais rápido que eu — murmurou, jogando-se no sofá.
Eu quis rir, mas segurei. Sentei ao lado dele e disse:
— Sabe, Pedro, o que importa é que você é você. E você é incrível. E quando alguém puder olhar dentro dos seus olhos e te ver de verdade, então, você será perfeito.
Em um gesto rápido, mordi de leve o braço dele para animá-lo. Ele não respondeu, mas se aconchegou no meu colo, como fazia quando era menor. Naquele momento, percebi que o amor, mesmo tão inocente, já trazia suas pequenas dores.
Comments
Post a Comment